A primeira vez que ouvi falar da Lúcia Milan foi durante uma conversa informal com outro mestre da arte floral Michel Benevenute. Ele falava com brilho nos olhos da genialidade dela e claro fiquei curiosa. No mesmo mês, em maio de 2024, ela estava organizando um workshop no seu estúdio em SP porém, as vagas já estavam esgotadas. Desde então comecei a segui-la nas redes sociais. Sabia do engajamento pioneiro no tema da sustentabilidade e aguardava ansiosamente o momento de fazer qualquer curso com ela. Até que apareceu uma oficina na Serra da Mantiqueira e eu não perdi a oportunidade de participar.
Quando cheguei na Fazenda Lila quase morri com o lugar, estrutura, conceito, seria e foi um final de semana maravilhoso. Já fazia 120 dias que não chovia e caiu uma tempestade, enquanto 18 mulheres se conheciam em uma sala com inspiração indiana e uma biblioteca sensacional.
Lucia tinha em mãos o livro que está lançando hoje, dia 05 de dezembro de 2024, e nos presenteou com a leitura da primeira página. Puxei o bloco de notas e fui tentando gravar o máximo de informações possíveis como boa aluna. Vou confessar que vivo uma luta interna entre prestar atenção em todos os detalhes e gestos versus o medo de esquecer boa parte da conversa. Ela contou como tudo começou e como teve a a companhia da mãe, também florista, durante boa parte da sua carreira.
Quando decidiu seguir carreira solo, aconteceu um incômodo, com o final das festas, ao observar toneladas e toneladas de lixo sendo jogado fora e isso mudou totalmente sua carreira, virou uma obsessão a ponto de se recusar a fazer decoração de festas se os contratantes não estiverem dispostos a usar flores locais. Ela dizia: eu simplesmente não faço! A preocupação com a reciclagem de materiais com cooperativas de recicladores, pra Lúcia, não é uma opção e sim como algo que já está no orçamento do evento.
Meu coração agricultor se conectou quando ela falou sobre colher as próprias flores semeadas, coisas que somente agricultores como meus pais e avós conseguiriam explicar.
Explicou sobre o movimento “no floan” ou seja sem uso de espuma floral, e a concordância do tema vai também em não participar de eventos ou dar cursos em empresas que as vendem. Falou sobre montar um arranjo floral com calma, experimentando texturas, desistindo, sobre não brigar com as flores e deixá-las ficar onde elas bem entenderem.
No final ela disse: “na minha opinião tem duas palavras que movem um artista: primeira capricho e a segunda intenção.” Eu vi claramente uma artista que fez seu nome na arte floral ao longo de décadas, mas nunca perdeu a capacidade de olhar sob novas perspectivas e liderar tendências muito antes do mercado estar pronto para desejá-las.
Me senti super conectada com a história da Lúcia e voltei inspirada no propósito de fazer a Flora Home A empresa brasileira responsável pela democratização ao acesso às flores.
E esse, foi só o primeiro dia com a Lúcia. Depois conto mais sobre as outras experiências vividas.
Obrigada, Lúcia, por compartilhar seus ensinamentos e me inspirar, muitas vezes, sem nem saber.